segunda-feira, 4 de abril de 2016

Músicas que falam com Deus (36) - Magnificat em Talha Dourada, hoje em Lisboa

Música

O Magnificat em Talha Dourada, de Eurico Carrapatoso, será tocado e cantado esta noite na Igreja da Graça, a partir das 21h30, depois de a mesma peça ter sido ouvida, sábado passado, na Igreja do Coração de Jesus, num concerto integrado no festival Primavera na Cidade e que foi também uma homenagem ao arquitecto Nuno Teotónio Pereira. A peça foi escrita em 1998, em comemoração dos 500 anos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Lê-se na folha distribuída sábado passado: “O Magnificat é uma homenagem ao barroco, o estilo onde triunfa o movimento, as espirais inebriantes, o puro concerto dos sentidos que cruza várias referências conferindo à obra uma folia estilística que faz lembrar uma ‘tapeçaria de Arraiolos de múltiplas cores e padrões’, nas palavras do próprio autor.”
Eurico Carrapatoso diz, aliás, que esta é, provavelmente, a sua obra dilecta. Para quem a escuta, a peça torna-se harmoniosamente dilecta, colocando em diálogo peças de inspiração popular portuguesa e a linguagem barroca. Esta é claramente assumida pelo autor: “O espírito de Bach paira sobre a obra, tal como, no princípio, ‘o espírito pairava sobre as águas’”, escreve. E como “‘barroco’ é uma palavra de origem portuguesa”, Carrapatoso decidiu homenagear o estilo que, “glorificando o movimento, o delírio e a dinâmica, transforma a música em pura alegria de viver”.
Mas não se pense que a referência portuguesa é apenas uma inspiração remota. Esta contribui para dar intensidade à escuta e à forma como os sentidos reagem ao Magnificat. Temas como “Virgem da Lapa”, “Ó meu Menino” ou “José embala o menino” são docemente recriados. O diálogo entre as duas referências musicais fica estabelecido entre o maior lirismo das melodias portuguesas e a maior ornamentação de temas como Quia Respexit, Et misericordia, Deposuit ou Suscepit Israel.
O concerto desta noite tem a participação do Coro de Câmara da Universidade de Lisboa e da Orquestra Académica da Universidade de Lisboa, dirigidos por João Aibéo e com a solista Ana Paula Russo.
Uma versão em disco, editada há pouco mais de dez anos e cuja capa se reproduz acima, regista a execução da peça ao vivo, em Agosto de 2000, no Festival dos Capuchos (ed. Dargil).

(o texto inclui a reprodução de um artigo publicado em Março de 2006, na revista Além-Mar, disponível aqui)

Texto anterior no blogue
O frade que não acredita no Papa, mas crê num mundo de irmãos - apresentação do quarto volume de antologia das crónicas de frei Bento Domingues no Público

1 comentário:

emilia nadal disse...

Pena saber deste acontecimento no próprio dia...