sábado, 2 de janeiro de 2016

A revolução franciscana (3) – Um pontificado em chave de mudança

Sob o título genérico A revolução franciscana, publiquei no Jornal de Notícias, durante o mês de Dezembro, oito trabalhos sobre o Papa Francisco, que tentam fazer um balanço do que tem sido este ainda curto mas intenso pontificado. Este é o terceiro trabalho da série. 

Papa Francisco (foto reproduzida daqui)

Mudança. A palavra atravessa, desde o início, os gestos, as decisões, os apelos, as homilias do Papa Francisco.

Desde o primeiro momento, pressentiu-se a mudança: o cardeal Jean-Louis Tauran chegou à varanda da Basílica de São Pedro, no início da noite de 13 de Março de 2013, e anunciou "habemus papam". Quando disse o nome escolhido pelo eleito, Francisco, percebeu--se que muito mudaria. Mudou logo nos instantes iniciais: as primeiras palavras dirigidas à multidão pelo até aí arcebispo de Buenos Aires foram um aparentemente banal "boa noite". Mas o que parecia normal trazia já o gérmen da novidade. O bispo e o povo caminham juntos, disse logo a seguir, inclinando-se para pedir a bênção dos milhares de pessoas que estavam na praça. Durante longos segundos, um silêncio esmagador tomou conta da multidão que pressentia o tempo novo. E, a partir daí, o Papa habituará as pessoas a um repetido pedido: "Rezem por mim..."
(o texto pode continuar a ser lido aqui)


Frases para a mudança

O Papa Francisco não se cansa de pedir a mudança – seja em questões políticas e económicas, seja em matérias internas da Igreja. E não enjeita mesmo haver temas, como o da mulher na Igreja, em que a mudança deve acontecer, mesmo que ele pense que a doutrina essencial deve ser mantida. Um breve dicionário de frases do Papa sobre a mudança.

Uma reforma financeira que tivesse em conta a ética exigiria uma vigorosa mudança de atitudes por parte dos dirigentes políticos, a quem exorto a enfrentar este desafio com determinação e clarividência, sem esquecer naturalmente a especificidade de cada contexto. O dinheiro deve servir, e não governar! O Papa ama a todos, ricos e pobres, mas tem a obrigação, em nome de Cristo, de lembrar que os ricos devem ajudar os pobres, respeitá-los e promovê-los. Exorto-vos a uma solidariedade desinteressada e a um regresso da economia e das finanças a uma ética propícia ao ser humano. (Exortação A Alegria do Evangelho, nº 58)
Toda a pretensão de cuidar e melhorar o mundo requer mudanças profundas nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades. (Encíclica Laudato Si’, nº 5)

A solidariedade é uma reacção espontânea de quem reconhece a função social da propriedade e o destino universal dos bens como realidades anteriores à propriedade privada. A posse privada dos bens justifica-se para cuidar deles e aumentá-los de modo a servirem melhor o bem comum, pelo que a solidariedade deve ser vivida como a decisão de devolver ao pobre o que lhe corresponde. Estas convicções e práticas de solidariedade, quando se fazem carne, abrem caminho a outras transformações estruturais e tornam-nas possíveis. Uma mudança nas estruturas, sem se gerar novas convicções e atitudes, fará com que essas mesmas estruturas, mais cedo ou mais tarde, se tornem corruptas, pesadas e ineficazes.
(Exortação A Alegria do Evangelho, nº 189)

Uma especial gratidão é devida àqueles que lutam, com vigor, por resolver as dramáticas consequências da degradação ambiental na vida dos mais pobres do mundo. Os jovens exigem de nós uma mudança; interrogam-se como se pode pretender construir um futuro melhor, sem pensar na crise do meio ambiente e nos sofrimentos dos excluídos.
(Encíclica Laudato Si’, nº 13)

“Devemos prosseguir por este caminho. O mundo em que vivemos, e que somos chamados a amar e servir também nas suas contradições, exige da Igreja o potenciamento das sinergias em todos os âmbitos da sua missão. Precisamente o caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio. O que o Senhor nos pede, num certo sentido, está tudo contido na palavra “Sínodo”. Caminhar juntos – leigos, pastores, bispo de Roma – é um conceito fácil de ser expresso em palavras, mas não tão fácil de ser colocado em prática”.
(Discurso sobre os 50 anos da instituição do Sínodo dos Bispos, Outubro 2015)

“É desejável, portanto, uma presença feminina mais ramificada e incisiva nas comunidades, de modo que possamos ver muitas mulheres envolvidas nas responsabilidades pastorais, no acompanhamento de pessoas, famílias e grupos, assim como na reflexão teológica.”
(Discurso ao Conselho Pontifício para a Cultura, Fevereiro 2015)


Mudança nas finanças, a boa notícia: Vaticano está a fazer “esforços”, diz Moneyval

A última boa notícia para o Papa e as reformas que ele empreendeu chegou dia 9 de Dezembro: o Moneyval, comité do Conselho da Europa que avalia medidas dos Estados contra a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo, reconheceu que o Vaticano tem feito “esforços” para prevenir delitos financeiros.
(o texto pode continuar a ser lido aqui)



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Os sapatos do Papa contra o suicídio - Francisco e a questão ecológica

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