sexta-feira, 3 de abril de 2015

Religião e arte, memória e saudade do Paraíso perdido e o cinema como espelho da vida


Manoel de Oliveira com Bento XVI, a 12 de Maio de 2010, 
no Centro Cultural de Belém (Lisboa)
(foto reproduzida daqui)

No encontro de Bento XVI com o mundo da cultura, durante a sua visita a Portugal em Maio de 2010, Manoel de Oliveira foi convidado a dirigir ao Papa as palavras de saudação. Na sua curta intervenção, o cineasta falou da relação entre religião, artes e cinema:  

Considerando, porém, a religião e a arte, ambas se me afiguram, ainda que de um modo distinto é certo, intimamente voltadas para o homem e o universo, para a condição humana e a natureza Divina. E nisto não residirá a memória e a saudade do Paraíso perdido, de que nos fala a Bíblia, tesouro inesgotável da nossa cultura europeia? Acossados pelas especulações da razão, sempre se levantam terríveis dúvidas e descrenças, a que se procura opor a fé do Evangelho que remove montanhas. E os seres humanos caminham na esperança, apesar de todos os negativismos. Como diz o padre António Vieira: «Terrível palavra é o “Non”, por qualquer lado que o tomeis é sempre Non...»,  terminando por lembrar que o “Non” tira a Esperança que é a última coisa que a natureza deixou ao homem.
Se as artes nada mais aspiram a ser que um reflexo das coisas e acções vivas dos procedimentos e sentimentos humanos do universo real ou em fantasias imaginadas, pode aceitar-se o que um realizador mexicano, Artur Ripstein, classificou dum modo magnífico e surpreendente o cinema como sendo o espelho da vida. E é-o de facto.
(o texto pode ser lido aqui na íntegrao vídeo da intervenção de Manoel de Oliveira pode ser encontrado no final desta galeria.)

Numa nota a propósito da morte de Manoel de Oliveira, o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, bispo D. Pio Alves, escreveu ontem: “Sentimos concretizado na obra de Manoel de Oliveira, e de outros protagonistas da nossa cultura, aquilo que o Concílio Vaticano II deixou bem vincado: as artes são um componente necessário do património de cada comunidade humana e ajudam a pessoa humana a chegar a uma autêntica e plena realização”, diz, numa referência ao texto conciliar da Gaudium et spes, sobre a relação da Igreja com o mundo.

Num texto biográfico sobre Manoel de Oliveira, a cineasta Inês Gil escreve:

“Católico confesso, defendeu sempre o cinema como arte de exprimir o religioso, questionando o mistério do mundo e a complexidade humana, por vezes, não poupando críticas a uma instituição que considerava demasiado fechada relativamente a certos assuntos e temas.”

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