sábado, 24 de novembro de 2012

Semana Social: que conclusões para a intervenção da Igreja?


Da Semana Social católica, que neste domingo termina no Porto, é já possível extrair algumas ideias importantes. Alguns tópicos para uma síntese:
- o Estado social tem que ser preservado em nome da caridade e da justiça (Guilherme d’Oliveira Martins – G.O.M.);
- o pensamento social da Igreja é claro na defesa dos princípios do Estado social; como exemplo de intervenção sobre o actual momento, G.O.M. citava o nº 32 da encíclica “Caritas in Veritate”, de Bento XVI: “A dignidade da pessoa e as exigências da justiça requerem, sobretudo hoje, que as opções económicas não façam aumentar, de forma excessiva e moralmente inaceitável, as diferenças de riqueza e que se continue a perseguir como prioritário o objectivo do acesso ao trabalho para todos, ou da sua manutenção. Bem vistas as coisas, isto é exigido também pela ‘razão económica’. O aumento sistemático das desigualdades entre grupos sociais no interior de um mesmo país e entre as populações dos diversos países, ou seja, o aumento maciço da pobreza em sentido relativo, tende não só a minar a coesão social — e, por este caminho, põe em risco a democracia —, mas tem também um impacto negativo no plano económico com a progressiva corrosão do ‘capital social’, isto é, daquele conjunto de relações de confiança, de credibilidade, de respeito das regras, indispensáveis em qualquer convivência civil;
- estamos diante de uma nova era: as instituições que nos conduziram até aqui estão em falência e os novos poderes não estão credenciados nem são sujeitos ao escrutínio (Manuel Carvalho da Silva);
- no quadro actual, é necessário reforçar a justiça distributiva, ainda mais tendo em conta o aumento das desigualdades sociais;
- há uma profunda crise de confiança dos cidadãos no poder político e no poder financeiro;
- a austeridade está a provocar mais desigualdades e a criar situações insustentáveis para a vida de muitas pessoas; a situação é dramática para muita gente; as razões da crise estão mesmo no agravamento das desigualdades e no funcionamento dos mercados financeiros;
- se o Estado não servir para promover uma melhor justiça social e um futuro melhor para todos, não serve para nada (padre Lino Maia);
- Portugal é o país mais desigual da Europa e a Igreja não pode deixar de denunciar o sistema que permite esta realidade;
- a regulação dos mercados financeiros tem que ser mundial, como recordou recentemente o Conselho Pontifício Justiça e Paz;
- o primeiro princípio da doutrina social da Igreja, que é anterior ao direito à propriedade privada, é o do destino universal dos bens (A. Bruto da Costa);
- os princípios da doutrina social da Igreja não são, muitas vezes, assumidos ou aplicados nem sequer por responsáveis ou por instituições da Igreja; “os católicos não dão muita importância” à doutrina social da Igreja, apesar do seu carácter pioneiro em muitas matérias (Manuela Silva e Francisco Sarsfield Cabral);
- a riqueza da doutrina social da Igreja deveria ser apreendida pelo conjunto dos crentes, em ordem à mudança das estruturas e à mudança dos corações; mas isso só acontecerá se a própria Igreja respeitar a dignidade das pessoas e se viver a justiça, a solidariedade e a comunhão (Manuela Silva);
- o fundamento da esperança cristã é como um amigo que promete vir a nossa casa; essa promessa deve levar os cristãos à partilha, como quem coloca na mesa mais um prato para o amigo que prometeu vir (Alfredo Bruto da Costa);
- os cristãos devem propor e criar novos estilos de vida, a partir de experiência concretas que podem passar pelas redes de vizinhança e pelo apoio aos mais pobres;
- os políticos não valorizam a crise dos mais pobres, daqueles que têm fome e sofrem o desemprego ou não têm dinheiro para pagar a casa. 

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