segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Igreja e cultura: cada vez mais longe?

Em Igreja e cultura: cada vez mais longe?, da autoria de José María Poirier, da revista Critério (transcrito pelo site Mirada Global), debatem-se os desafasamentos e mediações possíveis entre a doutrina da Igreja e a cultura, sobretudo entre as gerações mais jovens e, em particular, a propósito das questões da sexualidade. O trecho seguinte é apenas um pequeno extracto de um texto mais longo, que merece leitura:
" (...) Esta transformação da sensibilidade e dos valores, que leva à rejeição das normas e certezas tradicionais a favor de uma liberdade carente de referências firmes, é algo observável de um modo muito directo na conduta das gerações mais jovens. Estas tendem cada vez mais a gerir sua vida sexual quase exclusivamente em base ao critério da autenticidade afectiva. O casamento vai perdendo o carácter de horizonte natural do noivado, e aqueles que decidem casar-se o fazem hoje, em sua maioria, depois de experiências mais ou menos prolongadas de convivência. E não estamos falando de algo que aconteça só fora da Igreja. Muitos católicos adoptam estes novos estilos de vida sem sentir que estão pondo em jogo sua fé ou sua pertença religiosa.

Encontramos aqui um traço característico deste giro cultural: não se realiza contra a Igreja, isto é, não está necessariamente vinculado a uma postura de princípio contrário à fé ou à instituição eclesial (ainda que assim certas reivindicações particulares possam ser apresentadas publicamente). Pelo contrário, é uma mudança que acontece na maioria dos casos à margem da Igreja, isto é, em virtude de uma busca pessoal simplesmente alheia a tudo o que não for experimentado como significativo para si, muito além do que ela “diga” permita ou proíba.

Aqui parece localizar-se, então, o problema de fundo: a brecha crescente entre a Igreja e a cultura, entre seus ensinamentos e a vida da sociedade, sem excluir a vida dos fiéis. Não se trata tanto da verdade ou do valor da doutrina católica sobre a sexualidade em si mesma, quanto de sua relevância, isto é, de sua capacidade para modelar efectivamente a vida das pessoas. Precisamente, a percepção de uma perda dramática de relevância do ensino da Igreja está suscitando há anos profundas tensões no seio da mesma entre os que, por toda resposta, protegem a “doutrina segura”, e aqueles que no outro extremo procuram “chegar” às pessoas, através de propostas atraentes mas aventuradas, sem nenhuma continuidade possível com a Tradição(...)".

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